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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Vende-se Tudo!

No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou: - Que coisa triste ter que vender tudo que se tem. - Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.

Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa. Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante. Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas.. Um troço maluco: estranhos entravam naminha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu, mais sem alma. No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros..
Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material.. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importao tempo que estiveram presentes na minha vida...

Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio. Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa. Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza.

Só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir
E nada mais!


Texto de Martha Medeiros


4 comentários :

  1. Um belo texto sobre desprendimento!!!

    Um grande beijo

    www.emporiocasadachiquinha.blogspot.com

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  2. Oi querida Sheila! Desculpe por não responder de imediato, mas meu bichinho estava no médico... Tive que formatar por causa de um vírus, troquei o sistema, ainda estranhando um pouco, mas tudo bem!
    Em atenção a sua pergunta, não foi no site da Hazel não, encontrei nesse link:
    http://www.noticiaeblog.com
    Como já é uma postagem mais antiga, escreva "Faça nevar no blog" lá em cima à direita em "buscar". A postagem vai aparecer. Daí é só copiar e colar no local indicado (dentro do Html), está tudo bem explicadinho. Qualquer dúvida pode escrever, tá? Beijinhos!! Vy

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  3. Comentando o post, acho que um dos maiores sonhos da minha vida é me mudar mesmo. Eu adoro mudanças, de casa, de cor, de vida! Também não tenho apego em mobílias, se tiver que mudar, o bom é mudar tudo e começar de novo. Não morei no Chile, mas fiquei por lá durante um mês, na Argentina também. Na verdade, ainda prefiro o Brasil... Mas gostaria de conhecer alguns pontos da Europa, quem sabe um dia?

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  4. Lindo texto.
    E que todos nós aprendamos e consigamos cada vez mais pôr essa lição em prática. Porque o mais importante é quem somos, a companhia de quem amamos e as boas lembranças e lições que guardamos...

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